Redesign: o antes x depois que mudou a história de grandes marcas [parte 2]
Um dos aprendizados mais interessantes sobre estudar a evolução do design, é ver como a representação gráfica está alinhada com estratégias de marca e filosofia empresarial.
O logotipo inicial nem sempre irá acompanhar a marca por toda a sua vida, na maioria dos casos não acompanha, pois essa primeira criação corresponde a um desejo, uma previsão, uma aposta. É considerado o lugar que a marca ocupa naquele momento. Com o desenvolvimento da personalidade da marca, vem a necessidade da mudança. Um conjunto de fatores como: tendências da década, público, concorrência, uma rica mistura de história, arte e conhecimento de marketing.
Dividi esse artigo em duas partes, pois tem muita história boa pra contar! Se não leu a parte um, clique aqui.
Vamos começar falando sobre a “marca das marcas”, um dos símbolos mais emblemáticos do imaginário popular e uma das histórias mais interessantes:
Nike
Tênis da Nike com o logo branco estampado na parte posterior.
A Nike nasceu como Blue Ribbon Sports e no momento de transição de nome, surgiu a necessidade de um símbolo. Foi assim que nasceu o Swoosh. O nome e o ícone formam uma associação direta e forte desde a criação em 1971.
O símbolo foi criado pela estudante de design Carolyn Davidson. O briefing pedia a ideia de movimento e alguma inspiração na deusa grega da vitória.
Swoosh — símbolo da Nike.
Quando Carolyn apresentou para Phil Knight, ele não gostou muito do resultado, mas como tinha pressa em aprovar, aceitou e disse: “com o tempo vou gostar mais”.
Imagina se ele tivesse tomado essa decisão com base no seu gosto pessoal? Ele priorizou as necessidades da empresa e confiou. Ainda bem, né?
“O logo não só agradou Knight como o mundo inteiro. A Nike tornou-se uma das empresas esportivas mais importantes do planeta, levando o Swoosh para os quatro cantos. Porém, muita gente ainda pergunta o que significa o Swoosh. Várias interpretações já foram feitas: desde as asas da deusa Νίκη até a representação de um checkmark. Não existe uma única resposta. O Swoosh é simplesmente a Nike, mais do que se imaginava que seria.”
Para ler a história completa e em detalhes, clique aqui.
2. Airbnb
O logo do airbnb encapsula perfeitamente as mensagens que a empresa quer transmitir: ele é acolhedor, simples, confortável, acessível. Mas antes de chegar nesse resultado existiu uma trajetória prévia de aprendizados.
O Airbnb surgiu em 2008 em um boom de startups e usava seu nome completo: Air Bed & Breakfast. O logo era incoerente e podemos considerar a escolha de fontes e cores bem inadequadas. Mas essa primeira versão trouxe o ensinamento necessário para o que estava por vir: a necessidade de simplificar e trazer elegância.
Evolução do logo da marca Airbnb ao longo dos anos.
Então, eles decidiram reduzir o nome para Airbnb e realizaram um rebranding significativo, que os acompanhou por 6 anos. A segunda versão já era bem mais direta e esclarecedora e manteve algumas características da versão inicial: como as fontes “fofas” e o tom de azul.
Evolução do logo da marca Airbnb ao longo dos anos.
Em 2014 nasceu a versão que conhecemos hoje, o símbolo chamado “Bélo”. Uma versão abstrata que mistura as formas da letra com um pino de geolocalização.
Eles também abandonaram o azul para um tom de coral mais atraente e reconfortante. Trazendo um pouco do “quentinho” que se espera de uma empresa de hospedagens.
O Airbnb nos mostra como design é movimento e pode (e deve) ser moldado e construído a partir de conhecimentos e aprendizados constantes, conforme a trajetória e transformação da própria marca acontece.
3. DUNKIN’
Produtos e embalagens da marca Dunkin’.
A Dunkin’ é um glorioso case de design, uma história deliciosa de conhecer, ver e estudar. A marca que nasceu na década de 1950, sempre teve bom gosto e cuidado com o seu design. Olhando a primeira versão do seu logo, somos transportados por um corredor de nostalgia. E eu particularmente considero essa versão super aplicável nos dias de hoje (ainda mais sendo a nostalgia uma trend 2025).
Essa primeira versão, que tinha letras manuscritas, pessoais e acolhedoras, também escolheu o tom marrom para se diferenciar dos tons vibrantes e coloridos da época.
Aqui, a Dunkin’ estava testando seu espaço e iniciando uma trajetória que ganharia personalidade ao longo dos anos.
A segunda versão já chegou com uma super mudança, diferente das alterações sutis comuns em alguns casos de rebranding. O que esse visual nos conta? Que a Dunkin’ ganhou confiança, espaço, reconhecimento e coragem. A mudança radical vem de quem não tem medo de perder. Essa nova identidade visual pavimentou o caminho para a identidade de hoje, incorporando seu espírito fofo, alegre e delicioso.
Por meio de escolhas cuidadosas de cor, tipografia e imagens, um logotipo pode se transformar em uma narrativa, ressoando com seu público em um nível mais profundo.
A partir de 1976, outra grande mudança. Apesar de manter sensações próximas a sua versão anterior, o novo design da Dunkin’ se transformou grandemente outra vez. O foco passou a ser na fonte e na cor. Uma tipografia rechonchuda, deliciosa como um donut. Não dá vontade de… morder?
Em 2002, uma xícara de café foi adicionada ao logotipo. O que combina mais com um donut do que café, não é mesmo? Para uma marca que tinha “donuts” no nome, a adição de café no logo demonstra o desejo de ser mais, não é uma loja para uma parada rápida, é um momento gostoso para apreciar, entrar e ficar.
Um exemplo perfeito de alinhamento entre a identidade visual de uma empresa e sua linha de produtos.
Evolução do logo da marca Dunkin’ ao longo dos anos.
E em 2019, a mudança não foi apenas visual, mas também de comunicação, posicionamento e nome. Uma decisão inovadora que permite uma interpretação ampla. Transcendendo a oferta de produtos iniciais e se tornando apenas: DUNKIN’.
A fase minimalista é adaptável e aplicável, mantendo sua consistência através dos anos e conversando com diferentes públicos.
A Dunkin’ é um excelente exemplo de como design não é só estética, é uma narrativa que revela sobre os valores, a cultura e a identidade da marca.
Evolução do logo da marca Dunkin’ ao longo dos anos.
O design ilustra a história da marca, ele é o rosto de uma trajetória. Tem a função de comunicar princípios, visão, valores. É através dele que as pessoas se identificam e memorizam. Grandes marcas já começam sabendo disso, não tem como ser grande sem pensar o design.
“Se você acha que um bom design é muito caro, você deveria olhar para o custo de um design ruim.” ― Ralf Speth